segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Já que não te amo

Então você chega, tira os sapatos, se larga na cama, perde o compasso. Acende um cigarro, janta com fome, molha os cabelos, me tira do sério. Me joga com força, titubeia os dedos, de relance um sorriso que nunca sei o que espera. Sem querer ou até mesmo querendo demais, disfarço meus passos e finjo que não te amo, não te quero, não te sonho nem te espero. Mentiras, você sabe. Sabe tanto que se despede e vai pra cama, esperando que eu te siga. E eu vou, já que não te amo, não te quero, não te sonho e nem te espero. E vou, já que a noite é fria e o pensamento veloz e inquieto.

Não tiro a roupa, nem os sapatos, nem solto os cabelos. Nem olho para você que é para não me render. Não deixo que me alcance dentro de mim, não ouso respirar que é para que você não encontre meu refúgio, a única maneira de me manter sã enquanto me despedaço por ti. E sinto que não te quero, mas me aproximo mesmo que tão resistente, mesmo que contrariando a mim, mesmo com o perfume forte que enjoa. Me aproximo sabe-se lá o porquê, mas esse porquê me faz feliz.

E eu sou o jeito certo do seu jeito errado, a pele frágil do seu desacato, o segundo mortífero de morfina que depositam em mim. Eu sou a verdade que ataca as suas mentiras, o único segundo de pureza que toma conta de ti. Nem meio, nem inteiro, nem tão equilibrado assim. Me levanto e espero que você me siga. Mas você não vem, já que não me ama, não me quer, não me sonha e nem me espera. Não, já que a noite é quente e o pensamento não é mais tão espesso como você diz.

Sem comentários:

Enviar um comentário