Eu não sei fazer cartas longas, enroladas, com sentimentos bonitinhos e saudades impressas. Sinceramente, eu não faço ideia do que estou fazendo, então vou direto ao ponto: eu acho que sei qual é o meu problema. E eu nunca estudei antropologia, então pode ter certeza que eu sei do que estou falando. Acho que tenho medo de ser feliz. Todo esse tempo eu me forcei a acreditar que, por mais que, vez ou outra, eu sentisse vontade de chorar, tudo isso passaria ao amanhecer. Adiantou por algum tempo, até eu perceber que ando colorindo os meus planos de preto e branco e deixando que os outros joguem um pouco de tinta para mim. Eu passei alguns anos achando que esse era o meu caminho natural. Convencendo-me que precisamos de dor para amar e que ralar os joelhos – a cabeça, os ombros, as costas e qualquer parte que ainda reste de mim – era uma coisa normal e que todos passaríamos pelo mesmo processo. Nunca aceitei a opção de que existe uma alternativa mais fácil e ela se chama “sorrir sem fazer drama”. Eu me sentia frustrado o tempo todo e apreciava esses momentos. Era como se eu absorvesse a dor que eu causei às outras pessoas e tentasse exorcizar os meus demônios. Isso me deu um pouco de medo.
Você é a única pessoa que consegue me entender do início até o fim. Você consegue me analisar minuciosamente e me criticar sem que eu sinta vontade de me jogar da janela. Você nem precisa de uma receita médica para me jogar uma porrada de remédios. Mas a diferença é que eu não preciso me dopar para conversar com você. Eu posso, simplesmente, dizer. Então o motivo central desta carta e de todas essas palavras perdidas é só isto. Quero dizer, obrigada. Por não desistir de mim. Por não achar que eu sou um doente psicopata – ou talvez por achar só um pouquinho – mas, acima de todo, por não deixar eu me perder completamente. Eu amo você, sabia disso? É, eu amo sim.
Isso tudo é muito sentimentalista, então não perca essa carta entre garrafas de vinho, afinal, não sei se conseguirei fazer outra dessas. Olha, se cuida. Não se perca. Não deixe que a poesia tome conta de você. A dor é bonita, mas magoa, crucifica e adoece. Existem outras obras de artes que carregam espelhos.
Espero que você encontre a sua Dani.
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