Eu sei disso. Todo mundo sabe disso. O psicopata da mesa do
lado sabe disso. Existe algo naquele cara que grita para todos os burgueses chatos sentados neste café exatamente o que ele é: um perdedor. Por
um momento, ele acha que não está tão na cara. Tenta disfarçar o sujo de
macarrão com bolonhesa da camiseta com um pouco de saliva. Ele faz isso
meticulosamente, delicadamente, como se tentasse esconder de todo mundo a sua
ignorância.
Ele se sente deslocado, como um andarilho de bairros vizinhos. Ele
tem algumas moedas no bolso e um cigarro pendurado atrás da orelha. Neste exato
momento, ele olha pela janela e faz um gesto como se tivesse esquecido algo em
casa. Ele se sente um idiota.
O que aquele cara não sabe é que todas as pessoas
daquele café do sul de Nova Iorque são completos idiotas. Até mesmo o advogado
sentado à minha frente conversando com uma senhora de chalé azul-esverdeado.
Todos eles são peças de um tabuleiro. Todos são pequenas articulações para a
montagem de uma única peça: a vida.
Sinto um repuxo quando observo o perdedor saindo da
cafeteria sem pagar o cappuccino que agora esfria em cima da mesa à minha
diagonal. A garçonete está muito ocupada tentando arranjar algumas gorjetas de
um velho usando terno inglês que não tira os olhos de seus peitos. Vejo um cara
entreabrir devagar a porta da cafeteria. Ele não a abre a 90 graus que é para o
sino não tocar. Tem as mãos sujas de graxa e alguma coisa enfiada entre a calça
e o cinto que lhe dá um jeito de andar engraçado. Ele senta no bar e pede uma
Coca-Cola com limão, um croissant de chocolate e um milk-shake de morango.
Eu
sei o que vai acontecer. Todo mundo sabe disso. O psicopata da mesa do lado
levanta-se e vai embora deixando uma nota de 5 dólares na mesa.
Instantaneamente, eu o sigo. Eu sei o que vai acontecer, o perdedor sabia o que
ia acontecer, o psicopata também. Quando chego à esquina escuto gritos e atravesso o sinal aberto me deliciando com as probabilidades que matei hoje. Eu não paguei o café. Eu não perdi os 29,35 dólares que
tinha na carteira.
O perdedor ganhou mais do que vocês.
(...)
(...)
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