quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poliana

Poliana não bebia. Não usava drogas, não fodia. Poliana morava com os pais, às vezes com uma prima. Poliana não gostava de gente, espumantes, taxistas, feira aos domingos, motociclistas. Eu não a conhecia, mas sentia um gigante desprezo por Poliana. Ela cheirava a todas as coisas que eu odeio. Ela representava todos os meus medos mais controversos, cirrose, abortos, overdose. Sociopatas, vômitos, taxas, almoços, retrovisores. Poliana me infestava de desconfortos, aumentava minha desconfiança, me colocava ameaçado. Eu já não era ninguém quando Poliana existia ao meu lado.

Eu não gostava de Poliana e Poliana não me amava. Frequentava a Igreja aos domingos e orava toda Ação de Graças. Eu cuspia o chiclete na rua e deixava as meias sujas para fora do cesto de lixo. Poliana me encaminhava aos melhores centros de reabilitação, mas eu nunca estive sóbrio perto de Poliana. Ela me sugava toda a seriedade, roubava de mim toda a castidade. Eu nunca reclamava. Poliana me acha insensato, porco, consumista, estabanado. Eu queria matar Poliana da mesma forma que ela me matava todos os dias. Poliana me impedia de toda minha pureza, toda a minha coesão. Poliana fez de mim um corrupto, encheu meus olhos de sujeira e podridão.

Acabei me casando com Poliana. Nos reencontramos cinco anos depois de toda aquela confusão. Poliana agora dá uns tapas em um baseado e fode como ninguém. Poliana se mudou para minha casa, apesar de ainda não termos um quarto só para mim. Poliana adora charutos, cervejas, camas, apostas, dinheiro. Poliana sou eu, mas eu também já não sei quem sou. Ela cheira por todos os cômodos. Ela é o meu maior medo mais controverso. Poliana me infesta de baixarias, apreende meu estrago, ameaça minha calma. Eu já não sei quem é Poliana quando eu existo ao seu lado.

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